O que é a Depressão?
O termo DEPRESSÃO tem sido banalizado, então tem sido comum pessoas falarem nas conversas cotidianas algo como:
"Quando cheguei pra ver o filme, nossa! já tinha saído de cartaz... fiquei deprimida o resto do dia".
"Se tem uma coisa que me deprime é ver comida sendo despardiçada... tanta gente passando fome e aquele monte comida boa sendo jogado fora!"
"Encontrei ontem meu primo, que não via há 10 anos. Ele tava lá na casa de tia Ana. Conversamos, mas o cara tava na maior depressão: falando um monte lá dos políticos e não parava mais de falar! o cara parecia que tinha engolido um rádio... Uma chatice. Fiquei ainda uma hora... mas, depois, inventei uma desculpa pra tia e vazei."
Como nos exemplos acima e na maioria das vezes, a palavra depressão tem sido mal empregada, querendo significar apenas tristeza, ou irritabilidade, outras vezes dando sentidos diversos como comportamentos inadequados, acessos de raiva, momentos de desequilíbrio, etc.
Na verdade, a DEPRESSÃO é uma doença psiquiátrica que se caracteriza por uma série de sintomas psíquicos (tristeza, sentimentos de culpa, falta de energia, dificuldade de sentir prazer em atividades anteriormente prazerosas, falta de concentração e memória), sintomas físicos (alterações do sono, do apetite e da libido), sintomas comportamentais (retraimento social, crises de choro, lentificação ou agitação motora, comportamento suicida).
Qualquer pessoa pode ter a doença depressão: seja criança ou adolescente, jovem no auge da forma ou idoso ativo, homem ou mulher, pobres ou ricos, independentemente da raça ou do lugar no mundo onde tenham nascido ou vivam. Contudo, existem pessoas que são geneticamente mais predispostas a ter esta doença. No entanto, é importante ressaltar que pessoas portadoras de outras doenças clínicas podem desencadear a depressão também, assim como pessoas que sofrem doenças cerebrovasculares.
A depressão, assim como demais adoecimentos próprios ao ser humano, como o câncer e o diabetes, por exemplo, não privilegia e nem exclui ninguém. Isto ocorre porque, apesar de ser uma doença que afeta a expressão máxima das funções cérebrais, ou seja, a mente humana, é uma enfermidade que, assim como as demais, também encontra correspondente no corpo, em regiões determinadas do cérebro, e depende de substâncias, neurotransmissores e outros hormônios, que influenciam e são influenciados por todo organismo.
Sentimentos de culpa, idéias de autodesvalorização são sintomas psíquicos encontrados tipicamente na doença depressão. Isto em nada justifica atribuir ao doente a responsabilidade por ter adoecido, ou seja, a pessoa que tem a doença depressão não é culpado por estar doente! Afinal, quem gostaria de estar se sentindo mal a maior parte do tempo e em relação a maior parte das coisas?
No outro extremo, também não podemos imaginar que porque a pessoa esteja com depressão seja louca, ou tenha deixado de ser ela mesma. Estar deprimido não siginifica ter ficado emburrecido, ou ter ficado atoleimado, ou louco de pedra, então não há porque tratar o portador de depressão adulto como se fosse uma criança... também não se deve tratar a criança ou o adolescente deprimido olhando-o como se a qualquer momento fosse perdê-lo (um abraço e um chorro a cada 5 minutos), nem o idoso como se ele fosse agora o filho mal-criado que não quer obedecer e ficar saudável...
A dificuldade de enxergar claramente depressão como uma doença psiquiátrica faz com que as pessoas também evitem tratá-la adequadamente. As pessoas deprimidas muitas vezes adiam seu diagnóstico e tratamento adequados dizendo que:
- ficarão curadas sozinhas
- serão curadas somente com ajuda divina (padre, centro espírita, bezedor, profeta, pastor, pai ou mãe de santo)
- recuperar-se-ão apenas com atividade física
- ficaram boas com terapia alternativa (florais, reike, cromoterapia, fitoterapia, antroposofia, ortomolecular),
- serão curadas apenas com ajuda psicológica
- recuperar-se-ão através de vitaminas compradas como auto-medicação ou orientadas pelo balconista da farmácia
- ficarão curadas com a prescrição do neurologista
Tudo isto adia, em quem realmente tem a doença depressão, o diagnóstico preciso e o tratamento adequado. Porque da mesma forma que a pessoa tem vergonha e medo de admitir que está com uma doença psiquiátrica, ela também sente vergonha de procurar o médico especialista em tratar depressão: o psiquiatra.
Em psiquiatria, na residência médica, somos obrigados, durante meses a estudar e atender também em neurologia, o contrário não acontece com os méidcos neurologistas. O neurologista não é habilitado em diagnóstico e tratamento de doenças mentais, assim como outros médicos especialistas de outras áreas e clínicos gerais não são especializados em tratar a doença depressão.
O bom psiquiatra usará o mínimo de medicação necessária, podendo combinar um tipo de psicoterapia indicado por ele e, talvez por ele mesmo realizada, ou ainda lançar mão de recursos modernos como a neuromodulação (Estimulação Magnética Transcraniana e Eletroconvulsoterapia), desenvolvidos por psiquiatras e aprovados em nosso país para o tratamento de doenças mentais.
A depressão é uma doença que tem tratamento.
Tratar a depressão é investir no que se tem de mais valioso: a própria vontade de viver.
Dra. Glaise Franco
Psiquiatra/Psicoterapeuta.
Especialista em Psiquiatria e em Psiquiatria da Infância e Adolescência.
Mestra em Ciências da Saúde.
Habilitada em Neuromodulação Terapeutica (EMT/ECT).
Contato
(79) 99926-1352